2020 foi um ano de reorganização na Esplanada
Antes mesmo dos primeiros sinais de que a pandemia modificaria completamente os planos de todo o mundo em 2020, a Esplanada dos Ministérios já passava por mudanças. Em fevereiro, o então ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, foi deslocado para o Ministério da Cidadania, enquanto o então Secretário Especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, foi nomeado para comandar o Ministério do Desenvolvimento Regional. Para a Casa Civil, o ministro nomeado foi o militar da reserva, Braga Netto. Essas mudanças ocorreram na tentativa de organizar a recém formada base parlamentar do governo.
Desde a metade de 2019, as articulações com deputados e senadores já estava concentrada na Secretaria de Governo, com o ministro Luiz Eduardo Ramos. O ministro tem um bom trânsito entre os parlamentares e foi um dos articuladores da criação do Ministério das Comunicações, que passou a ser comandado pelo deputado federal Fábio Faria (PSD/RN) em junho. Também é atribuída ao ministro Ramos a troca no Ministério do Turismo no final do ano, onde Marcelo Álvaro foi substituído por Gilson Machado Neto, que presidia a Embratur.
Além dos ministérios citados, outros quatro tiveram novos ministros nomeados ao longo do ano. Foram eles:
Ministério da Saúde
O Ministério da Saúde esteve nos holofotes da imprensa desde que foi se desenhando o cenário da pandemia na saúde pública do Brasil. No início de março, o então ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM/MS), nomeado no início do governo Bolsonaro, já fazia coletivas de imprensa diariamente sobre os novos dados da COVID-19 no país. Essa constante exposição, aliada à falta de proximidade com o presidente, teve grande contribuição na deterioração da relação entre os dois. Com o passar das semanas, a abordagem que o ministro e o presidente dariam à pandemia acabou escancarando também as suas evidentes divergências.
No dia 16 de abril, Mandetta anunciou sua demissão e, no mesmo dia, o médico Nelson Teich foi nomeado como novo ministro. Sua rápida gestão no Ministério terminou por motivos parecidos com os de Mandetta, as divergências entre as abordagens escolhidas pelo Ministério e pelo Palácio do Planalto. Em 15 de maio, Teich anunciou que estava saindo do posto.
Depois de duas demissões em menos de um mês, a nomeação do novo ministro da Saúde foi pensada com cautela.
Ministério da Justiça e AGU
Em abril desse ano, mais um ministro importante optou por deixar o comando de seu Ministério: o ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro. Depois de um ano e quatro meses no cargo, Moro anunciou sua saída após a exoneração de Mauricio Valeixo, então diretor-geral da Polícia Federal. Valeixo havia sido indicado pelo ex-juiz, que se disse surpreso com a publicação de sua exoneração no Diário Oficial. Moro também acusou o presidente de trocar o diretor-geral para colher informações da Polícia Federal.
A saída do ex-ministro fez mais barulho do que gerou consequências de fato. A análise de que o ministro levaria consigo parte da popularidade do presidente não foi comprovada nas pesquisas publicadas após sua demissão. O nome escolhido para substituí-lo foi o do então advogado-geral da União, André Mendonça, que tem perfil mais reservado. Após oito meses de sua gestão, Mendonça carrega consigo poucas críticas e poucas polêmicas.
Ministério da Educação
O Ministério da Educação foi alvo de disputas constantes durante o ano. Com a mudança de postura do presidente Bolsonaro com relação aos parlamentares do chamado Centrão, o cargo que era ocupado por Abraham Weintraub foi um dos que passou a ser cobiçado por lideranças partidárias dispostas a apoiar o governo. Além disso, o ministro acumulava polêmicas e comprava briga com atores importantes da política nacional, como os ministros do Supremo. Em junho de 2020, Weintraub foi exonerado do cargo e nomeado para um cargo de direção no Banco Mundial, em Washington, DC.
Depois de novas polêmicas envolvendo possíveis candidatos ao posto e até mesmo um ministro nomeado e exonerado na mesma semana por ter colocado informações falsas em seu currículo, o escolhido foi Milton Ribeiro. Ribeiro é pastor presbiteriano e menos polêmico do que Weintraub, o que agradou a ala militar do governo e manteve o vínculo da ala que apoiava a permanência de Weintraub no Ministério.
O ministro que não cai
Na via contrária de todos os casos citados anteriormente, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, permanece firme em seu posto mesmo depois de ano conturbado para sua pasta. Salles é um aliado importante do presidente Jair Bolsonaro em sua agenda de costumes, além de agradar parte do setor agropecuário pela sua defesa firme da desburocratização das regras ambientais no país. Contudo, por seu perfil combativo e polêmico, o ministro também desagradou diversos setores durante sua gestão.
A imprensa noticia rumores de sua saída desde o início de 2019. Em diversos momentos, nos últimos dois anos, como nos incêndios na Amazônia e no Pantanal, a expectativa era de que o ministro seria demitido, mas os rumores nunca se confirmaram. Mesmo após desavenças com nomes importantes para o Planalto, como o ministro Luiz Eduardo Ramos e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM/RJ), Salles permanece no posto. Dado haver tantas expectativas contrárias à sua permanência, Ricardo Salles entra 2021 como o ministro mais resiliente do governo.
Auxílio emergencial mantém a popularidade de Bolsonaro em alta durante a pandemia
Uma das vitórias do governo durante o ano foi a demonstração da capacidade de execução do programa que transfere o auxílio emergencial para a população aprovado no Congresso Nacional em abril. Depois de disputas entre a oposição e a base, a quantia aprovada foi de 600 reais para aqueles que haviam perdido emprego durante a pandemia, ou que trabalhavam informalmente e perderam suas fontes de renda. De acordo com o Ministério da Cidadania, o benefício atingiu, direta ou indiretamente, 60% da população brasileira. Esses números colocam o auxílio emergencial entre os maiores programa de transferência direta de renda do mundo.
No segundo semestre, o governo ainda bancou a extensão do benefício para dezembro mesmo tendo que diminuir o seu valor pela metade nos últimos três meses do ano. É atribuído ao benefício a manutenção dos níveis de popularidade do presidente Bolsonaro, que vêm diminuindo nas classes mais altas e aumentando nas classes mais baixas, de acordo com as pesquisas de opinião. Caso se comprove essa conexão entre o valor do auxílio e a popularidade do presidente, o fim do programa será, portanto, um dos grandes desafios para o presidente em 2021.
Área de infraestrutura continua sendo fonte de boas notícias
Mesmo durante um ano atípico como foi 2020, o setor de infraestrutura do governo continuou rendendo boas notícias. De acordo com o Ministério da Infraestrutura, foram leiloados nove ativos da alçada do ministro Tarcísio de Freitas, o que representou a receita de cerca de três vezes o orçamento do próprio Ministério. Também foram realizadas três antecipações de renovações de concessões ferroviárias: a Malha Paulista, e as estradas de ferro Vitória-Minas e Carajás. Em 2021, a intenção da pasta é transferir mais 50 ativos para a iniciativa privada.
No âmbito do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI), foram realizados 29 leilões e projetos. No início de dezembro, foi apresentado pelo conselho do PPI uma lista de 115 ativos que deverão ser submetidos à leilão e projetos de concessão em 2021. Entre esses projetos está a privatização de estatais como a Eletrobras, que ainda precisará passar pelo Congresso Nacional.