Cenário Geral
As Convenções Partidárias tiveram início no dia 20 de julho e vão até 5 de agosto. Nesse período, as siglas oficializarão os candidatos das eleições de 2022 a nível nacional e estadual. Enquanto isso, alianças são negociadas e o cenário eleitoral segue em constante atualização.
O PT, partido do ex-presidente Lula, está em crise com dois de seus principais aliados: o PDT e, mais focalizado no Rio de Janeiro, o PSB. A Federação PSDB e Cidadania também está estremecida. Já a crise no MDB é interna, isso porque a presidenciável Simone Tebet (MDB) não tem apoio de boa parte do seu partido.
Partidos de esquerda rompem alianças para eleições de 2022
No Ceará, assim como nacionalmente, PT e PDT seguem caminhos distintos
A aliança de esquerda entre PT e PDT chegou ao fim com a formação de chapas para as eleições de 2022. Se, a nível nacional, Ciro Gomes (PDT) já é oposição desde 2018, quando pleiteou a Presidência da República contra o candidato petista, Fernando Haddad, no Ceará, a decisão do PDT por Roberto Cláudio como candidato ao governo local rompeu de vez a relação que já estava estremecida.
O histórico não se dá diretamente entre PT e PDT, mas entre o PT e a família Ferreira Gomes, dos irmãos Ciro e Cid Gomes, influentes no Ceará e, consequentemente, na esquerda brasileira. Em 2006, Cid foi eleito governador pelo PSB e colocou fim à liderança tucana no Estado. À época, Camilo Santana (PT) foi secretário de Cidades e se tornou seu sucessor da cadeira do Executivo local. Camilo deixou o cargo apenas neste ano, quando se desvinculou para pleitear vaga no Senado Federal, e passou a cadeira do palácio para a então vice-governadora, Izolda Cela (PDT). Esta se tornou a preferência do PT para o governo local, já que Cela é próxima do ex-governador petista.
Os ânimos se acirraram entre as lideranças quando o presidenciável Ciro Gomes começou a articular a indicação de Roberto Cláudio para o governo local. Ciro temia que, caso Izolda Cela fosse a candidata do partido, ela cedesse palanque para o ex-presidente e também candidato ao Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No dia 18 de julho, em reunião do Diretório Estadual, o PDT escolheu Roberto Cláudio como candidato, levando ao fim da aliança com o PT. Junto ao MDB, PP e PCdoB, o Partido dos Trabalhadores escolheu Elmano de Freitas (PT) para concorrer ao governo do Ceará.
Oposição fortalecida
O racha entre PT e PDT pode levar à eleição de Capitão Wagner (União) para o cargo de governador no Estado, é o que as pesquisas eleitorais já vinham indicando. Ainda em junho, quando não se tinha definido quem disputaria o cargo pelo PDT, o candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) já liderava as pesquisas com 44% das intenções de voto, em disputa contra contra Izolda Cela (29%), e com 40% contra Roberto Cláudio (35%), como mostra o panorama levantado pela Distrito. Com mais um nome de esquerda, a tendência é que o cenário fortaleça ainda mais a candidatura de Capitão Wagner.
Disputa por poder
Com a condenação de Lula em 2017, partidos de esquerda enxergaram uma vacância de poder na posição ocupada pelo petista, símbolo referência dos sindicalistas e dos trabalhadores. Para partidos como o PDT de Ciro Gomes, o PT perdia força com Lula fora de cena, o que se confirmou com os resultados das eleições de 2018, quando Bolsonaro foi eleito mesmo com o PT mantendo uma candidatura. Fernando Haddad (PT) conseguiu 29,28% dos votos em 2º turno, enquanto Bolsonaro, 46,03%. Na onda do antipetismo, Ciro obteve cerca de 12,47% dos votos.
Nas pesquisas eleitorais para 2022, no entanto, o PT está na liderança visto que Lula está de volta ao panorama, inocentado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2021.
Pesquisa Exame Ideia | BR-09608/2022
A dissolução da aliança entre PDT e PT, de modo geral, pode enfraquecer o mandato de Lula, caso eleito. Isso porque o PDT era um ponto chave para a eleição de petistas e aliados no Congresso Nacional. Com Lula enfraquecido, o espaço estaria aberto para outras lideranças de esquerda.
Cláusula anti-Lula
A busca pela liderança da esquerda é tanta que o PDT aprovou uma resolução condenando propaganda a favor de candidatos que não sejam os indicados pelas convenções nacional e estaduais. Essa medida, conhecida popularmente como “cláusula anti-Lula”, busca evitar que o ex-presidente e opositor de Ciro Gomes tenha palanque pelo partido nos Estados.
PT e PSB enfrentam impasse no Rio de janeiro
De volta ao cenário político brasileiro, Lula está disposto a tirar Bolsonaro do Palácio do Planalto e, para isso, se aliou a um antigo opositor, o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSB). A escolha do pessebista para compor a chapa de Lula se deu como forma de mostrar ao público um possível governo mais centralizado e menos extremista, como boa parte do eleitorado parece crer sobre o PT.
A aliança, contudo, não ficaria apenas em nível presidenciável e, por isso, os partidos buscam costurar acordos nos Estados. No Espírito Santo, por exemplo, o senador Fabiano Contarato (PT) retirou candidatura para apoiar Renato Casagrande, candidato do PSB ao governo do Estado. Já em São Paulo, o ex-governador Márcio França (PSB) desistiu do pleito ao executivo local para impulsionar a candidatura do petista Fernando Haddad.
Porém, os acordos não foram fáceis e nem bem-sucedidos em todas as Unidades Federativas. No Rio de Janeiro, o PT acusa o PSB de não cumprir o combinado ao lançar Alessandro Molon como candidato ao Senado na chapa com Marcelo Freixo, ambos filiados ao PSB. O trato, segundo o PT, era que a chapa de Freixo fosse composta por André Ceciliano (PT) ao Senado.
Com o descumprimento do acordo, a esquerda corre o risco de rachar também no Rio de Janeiro, já que, provavelmente, o PT estadual não deve retirar o nome de Ceciliano do pleito. Na última semana, o ex-presidente Lula publicou vídeo nas redes sociais no qual reitera apoio a André Ceciliano e a Marcelo Freixo.
Impasses na Federação PSDB/Cidadania
Distrito Federal e Rio de Janeiro são os focos de conflito da federação
Em maio deste ano os partidos PSDB e Cidadania se uniram em federação. Tendo em vista que uma federação é tida como uma unidade e sua formação é em nível nacional, diferentemente das coligações, que permitiam união em estados ou municípios específicos, alguns conflitos têm surgido na escolha consensual de candidatos. As maiores divergências se passam no Rio de Janeiro e no Distrito Federal.
Rio de Janeiro: Marcelo Freixo vs Rodrigo Neves
A desavença da federação no Rio reside em quem será o candidato apoiado ao governo. De um lado, o PSDB é favorável ao nome de Marcelo Freixo (PSB), do outro, o Cidadania quer ser base de Rodrigo Neves (PDT). Na última sexta-feira, 22 de julho, Rodrigo Maia, presidente da agremiação no estado, confirmou em comunicado que as legendas, apesar de federadas, seguirão caminhos distintos: Maia confirmou seu pai, César Maia, como vice de Freixo e anunciou que o Cidadania mantém seu apoio a Rodrigo Neves. Com isso, é provável que a decisão final seja levada à executiva nacional, tendo em vista que a regulamentação de uma federação prevê justamente a unidade dos partidos. A convenção partidária PSDB/Cidadania está marcada para a próxima quarta-feira, 27 de julho. No estado, esta data ainda não foi definida. Vale ressaltar que em âmbito nacional o PSDB possui mais votos.
Distrito Federal: Paula Belmonte vs Izalci Lucas
No Distrito Federal o desentendimento tem Paula Belmonte (Cidadania) e Izalci Lucas (PSDB) como protagonistas. O desejo inicial da representante do Cidadania era compor uma chapa com o pré-candidato ao governo do União Brasil, senador Reguffe, na vaga ao Senado. Todavia, Izalci sempre se colocou como pré-candidato ao governo, mesmo sem o apoio de Paula Belmonte. Neste cenário, após reviravoltas, Paula desistiu de concorrer ao Senado e decidiu se colocar como opção ao governo. No momento, a federação PSDB/Cidadania possui então dois pré-candidatos ao palácio do Buriti. A expectativa é que o conflito seja resolvido na convenção partidária distrital da agremiação, agendada para o dia 31 de julho. A convenção foi convocada por Izalci, presidente da federação no DF.
Sem o apoio do próprio partido, candidatura de Simone Tebet é questionada
Entre lulistas e bolsonaristas, MDB enfrenta racha interno
Em dezembro do ano passado, Simone Tebet foi oficializada como pré-candidata à Presidência da República. Na época, a chamada “terceira via” ainda contava com as pré-candidaturas de Sérgio Moro (União) e João Dória (PSDB) e já havia dúvidas acerca da manutenção do nome de Tebet na disputa. Com a saída de Moro e Dória da corrida presidencial, parte do MDB viu a candidatura própria como principal alternativa à polarização no país, mas outras alas, especialmente nos estados, se colocaram justamente como palanque de Lula (PT) ou Bolsonaro (PL).
Recentemente onze líderes regionais da sigla, como os senadores Renan Calheiros (AL), Eduardo Braga (AM), Veneziano Vital do Rêgo (PB), Marcelo Castro (PI) e Rose de Freitas (ES); o líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões (AL) e o governador de Alagoas, Paulo Dantas, declaram ser favoráveis à candidatura de Lula. Na ocasião, articularam inclusive o adiamento da convenção partidária. No Distrito Federal, o atual governador e candidato à reeleição, Ibaneis Rocha, se apoia no bolsonarismo para sua campanha, assim como a pré-candidata ao governo do Acre, Mara Rocha.
É neste cenário, com uma candidatura fragilizada, que Tebet tem tentado trazer para sua base o PSDB. Apesar da aliança nacional estar bem direcionada, com o nome de Tasso Jereissati à vice-presidência, a oficialização da coligação depende de destraves regionais. Um dos maiores impasses é no Rio Grande do Sul. O conflito gira entorno do apoio à candidatura de Eduardo Leite (PSDB) ao governo. Em sua maioria, os emedebistas são favoráveis a Leite. No entanto, uma ala encoraja que o partido tenha uma candidatura própria, o principal nome cotado é o do deputado estadual Gabriel Souza. A convenção partidária estadual está agendada para o dia 31 de julho, mas é possível que a divergência seja resolvida antes em âmbito nacional.
Mesmo a contragosto de alguns, a convenção partidária do MDB para definir a candidatura de Tebet se manteve para esta semana e o evento deve ocorrer na próxima quarta-feira, 27 de julho. O senador Renan Calheiros, no entanto, afirmou que irá protocolar uma ação hoje, 25, para que a convenção seja adiada para o dia 5 de agosto.